De tempos em tempos, toda geração ganha - mesmo quando não é necessário - uma nova versão de uma canção que um dia foi sucesso.
E nem dá para afirmar que é por falta de criatividade artística porque dá para encontrá-los desde o início do que podemos chamar de marco zero da cultura pop, os anos 60. No primeiro álbum dos Beatles, por exemplo, estava lá Chains, um cover de 9 anos antes do grupo vocal The Cookies.
E como o assunto renderia uma infinidade de opiniões, resolvi fazer um recorte pessoal aqui de covers interessantes a partir de 3 perspectivas: Covers melhores que os originais, covers que não precisavam existir e covers mais curiosos. Vamos a eles.
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Covers que superam a versão original
1 | I see the darkness (Johnny Cash)
Sim, eu vou começar a lista com Johnny Cash.
Não, não vai ser Hurt (que merece uma menção à parte em qualquer lista).
Na verdade, dá para pincelar uns 10 covers dos últimos álbuns do Johnny Cash que podiam figurar aqui. Porém, eu escolhi I see the darkness que era, originalmente, de um compositor chamado Will Oldham que a lançou um ano antes do bardo americano regravá-lo. Ainda que ambas as versões sejam belíssimas, Cash entregou uma releitura minimalista e tão triste (ou mais) que Hurt.
2 | Five years (Duran Duran).
Colocá-la aqui, pra quem sabe da minha paixão por Bowie, é quase um sacrilégio.
Porém, os caras fizeram um clipe emotivo e uma interpretação ainda mais claustrofóbica.
Perdão, Bowie, mas isso ficou absurdo de belo.
3 | Um girassol da cor do seu cabelo (IRA)
Agora, na seara nacional, um cover que eu coloco ciente de que pode causar polêmica. Mas mesmo com a gravação original de Lô e Milton envelhecendo cada vez melhor, o que o Ira - ao lado do Samuel Rosa - fez com Um girassol da cor do seu cabelo é pra ficar no topo das grandes regravações da nossa música. Na dúvida, atente-se à guitarra de Scandurra que desenha um mini solos incríveis ao longo da canção.
4 | Olhos nos olhos (Ivete Sangalo)
Seguindo a lista, a próxima é uma surpresa boa que veio de onde eu nunca esperava. Ainda mais que se trata de Chico Buarque e de uma música que já tinha feito sucesso com a Maria Bethânia. Neste caso, se você tem a mesma preguiça que eu da Ivete, o ideal é deixar isso de lado e conferir esse cover com o arranjo mais bonito que já colocaram em Olhos em Olhos (muita atenção nas cordas após o primeiro refrão).
5 | God (Zé Ramalho)
E fechando o top 5, vou misturar Brasil com Inglaterra e colocar a versão de God, de John Lennon, com o Zé Ramalho. Nem eu imaginaria que trocar um piano triste de Liverpool pelo viola árida nordestina seria a melhor decisão musical pra uma canção.
Nela, Zé foi mais Dylan que o próprio Dylan.
Covers que não precisavam existir
A próxima lista é a da discórdia. Então vou apenas pontuar o porquê acho desnecessário essas regravações e você decide se gosta ou não.
Eu acho, sinceramente, uma bosta.
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1 | Ovelha Negra (Manu Gavassi e Liniker)
Fico feliz que minguou o projeto de ressuscitar o Acústico MTV. Porque pelo ponto de partida, dava pra ver que teríamos uma sequência de coisas que ninguém aguentaria ouvir, a não ser o fã do tal artista em questão.
A voz de Lineker até é bem boa e o contexto da música da Rita cairia como uma luva ali, mas tudo aqui soa pasteurizado e sem motivo. Fujam!
2 | Come as you are (Caetano Veloso)
A decisão de um álbum com música americana podia até ser boa. Mas essa vontade feladaputa do Caetano de ser universalmente plural rendeu uma piada das ruins.
3 | Ziggy Stardust (Seu Jorge)
Tá, eu sei que esse álbum é meio conceitual, faz sentido no filme do Wes Anderson e, segundo a divulgação na época, o Bowie adorou ouvir suas canções em outra roupagem. Mas nem se a gente ignorar as letras nonsense, dá pra achar uma situação em que iremos ouvir essa merda.
4 | I love rock n’ roll (Britney Spears)
Ela não ama o rock e, mesmo se amasse, não faz sentido regravar a música da Joan Jett com um arranjo que não fosse rock.
5 | Cilada (Vanguart)
Quando isso aqui foi lançado, eu tive de ler que era o melhor cover de todos os tempos em algum perfil do Twitter. Ainda bem que a versão foi direto pro fosso dos esquecidos. Que fique por lá.
Covers curiosos
1 | Largado às traças | Renato Teixeira
O mestre da músicas sertaneja trouxe uma canção famosa das duplas atuais pra dentro do seu universo. Só aí, confesso, que reparei que ela podia ser bonita (quando cantada sem gritar, no caso).
2 | Changes (Charles Bradley)
O cara enfiou uma coisa meio soul numa balada do Black Sabbath. Eu achei genial.
3 | Acima do sol (João Gomes)
Essa rolou num tributo do Altas Horas ao Skank. E mesmo não achando graça alguma no João, admito que adorei o tom grave para cantá-la.
4 | Total eclipse of the heart (Doro e Rob Halford)
A canção original ensaiava ser metal. Então dois ícones a transformaram nisso.
Curioso é imaginar que eles devem ter a mesma idade da Bonnie Tyler, que não dá conta mais de segurar as notas altas que eles repetiram numa boa.
5 | Out of the woods (Ryan Adams)
Mesmo sem paciência alguma pra nada da Taylor Swift, eu posso dizer que conheço de ponta a ponta um álbum inteiro dela por causa do Ryan Adams.
Várias gravações ficaram interessantes, mas aqui, ele fez mágica.