Sei que não é só comigo que acontece.
De repente, começa a tocar uma música que você já ouviu diversas vezes mas, desta vez, ela soa diferente. Na verdade, é como se você a escutasse pela primeira vez.
E assim como um livro que você leu em uma época errada e, anos depois, ao reler, entendeu que era você que não estava pronto para ele, a música te toca de uma forma diferente. Como nunca tocou antes.
E então, se a gente para e pensa, tende a discordar daquela máxima de que música é universal. Não, não é. Nem universal nem atemporal.
Como qualquer outra arte, eu acredito que a música também pode exigir know how, contexto e ambientação para fazer sentido.
Na hora H, no dia D
Pensando bem, devo admitir que até mesmo os artistas, canções e discos que mais amo só ocupam esse lugar porque chegaram com o timing exato para eu dedicar a merecida atenção a eles. Senão, vejamos:
Hole in my soul do Aerosmith se explicava na primeira paixão.desilusão amorosa juvenil;
Livro dos Dias da Legião conversava com os primeiros anos da vida adulta e aquela desesperança e vontade de morrer e desistir;
Direito de ser nada do Violins, de ponta a ponta, conversava fácil com o adulto pessimista e irônico que eu tinha me tornado;
A discografia inteira do Los Hermanos era um bálsamo durante os anos de redescoberta e validação do que eu queria pra vida, e por aí vai.
Três canções três (novas) percepções
Mas para exemplificar minha teoria aqui, preciso citar as músicas que me tomaram a alma nas últimas semanas e como isso aconteceu.
Making love (Out of nothing at all) | Air Supply
Até assistir um vídeo de um adolescente cantando em plenos pulmões um verso dela, dias atrás, essa era apenas uma canção que eu julgava só tocar em rádio nostálgica. Inclusive, minha definição é porque acho que uma tia que já morou conosco ouvia sempre antes de dormir num programa da Rádio Colonial de Congonhas que chamava Colonial Night Fly.
Mas, se antes, não me dizia nada, desde a redescoberta, entrou num repeat incansável e tem me feito ficar cada dia mais encantado com a beleza dos vocais, a melodia e a letra.
Coisas da vida | Rita Lee
Ok, a discografia da Rita é tão diversa que dá pra garimpar e achar umas joias perdidas o tempo todo. Mas Coisas da vida é lado A que nunca me interessou.
Principalmente porque no Acústico MTV tá enfiada no meio de duas canções que acho meio bobas (Desculpa o auê e M Te Vê). Mas um belo dia, caí numa entrevista do Roberto de Carvalho falando sobre algo que ele mudou ao vivo nela e fui conferir.
Não vi nada demais na alteração que ele disse que fez mas vi na beleza da música que me fisgou naquele dia.
Já arrisco dizer que divide a tríade de favoritas da Rita com Menino Bonito e Luz del fuego.
Domingo | Biquini Cavadão
Pra mim, o Biquíni sempre foi a banda do show divertido e tal, mas a um passo de parecer aquelas malditas bandas cover de baile. Isso porque, mesmo com várias canções bacanérrimas, o repertório ao vivo sempre passou por poucas variações nestes 20 e poucos anos que os assisti.
Só que isso até ontem.
Porque foi só desenterraram no show em Catas Altas uma versão voz e guitarra de “Domingo” e pronto” Essa é minha última obsessão musical.
Eu sabia toda a letra e nem sei porque sabia.
Mas ali, sem que eu pudesse prever, senti como se o Bruno cantasse uma parte de mim que eu vivo tentando explicar.